sexta-feira, 7 de outubro de 2011

continuar


Sento no canto de meu quarto,analiso minha penteadeira com minhas coisas penduradas e bagunçadas sobre ela.Percebo minha imagem no espelho,ímpar,solitário com meus sonhos em mente destruídos pela realidade vazia.'Por qual razão eu ainda tinha sonhos ?'
Me calço,coloco meus fones de ouvido e o capuz de minha jaqueta me envolve.O mundo fica por trás da música alta que alcança meus tímpanos .
Passo pelo portão de casa despreocupado e tomo um rumo,sem saber que horas vou voltar.
Minha mãe me liga,eu atendo digo o dê sempre 'está tudo bem' ela retribui com um 'te espero para jantar,seu pai estará em casa hoje.Se apresse pra voltar',digo que em breve estarei lá.Desligo.
Chego até uma praça rodeada de crianças,que gritam em mudo por meus fones estarem atingindo,sozinhos,meus pensamentos.
Ascendo um cigarro.Me sento em um banco perto de uma banca de jornal.Tento ler a manchete do jornal que estava cerca de mim.
Me arrependo de não ter trazido algo para minha distração,pois você apareceu.
Apareceu entre os beijos de casais que passavam.Apareceu entre as canções que um grupo de jovens cantava.Apareceu no cheiro de minha jaqueta.Apareceu nas mãos dadas que me rodeavam.Apareceu em minha lista de músicas aleatórias.Apareceu nas luzes que rodeavam a cidade.Apareceu no por do sol.Apareceu nas nuvens rosadas pela luz que o crepúsculo fazia.Apareceu na minha tentativa frustrada de desapego por você.
Onde você está hoje? Que lábios tocam os seus ? Quais são seus novos planos ? Suas novas ilusões ? E seus novos amigos ? Já contou alguma mentira ao novo dono de seu coração ? Quem está sendo sua almofada no filme chato da tarde ?
Foi inevitável conter as lágrimas ao relembrar de sua saída,sem adeus,pelo mesmo portão que passei a alguns momento atrás e sabendo que você não voltaria.Sabendo que você não ligaria no dia seguinte.Sabendo que minha parte que vive em você,morreu.Sabendo que eu havia me transformado,pra você,em apenas folhas mofadas e antigas de seu livro,que em breve encostaria em qualquer prateleira para que o tempo tomasse conta.
Deus havia me deixado para trás,pois me lembro bem de pedir a Ele tantas e tantas vezes 'nunca a deixe partir,por favor'
Apaguei meu cigarro.Enxuguei minhas lágrimas.Tomei meu rumo de volta para casa.
Mesmo não sentindo,mesmo não vendo,mesmo querendo o oposto,ainda estava vivo.
Eu ainda devia meu trabalho de história para meu professor,ainda devia sorrisos falsos aos colegas de classe,ainda precisaria continuar com minha rotina desgastante e frustrante.
Ainda precisaria continuar,sem razão alguma para respirar,precisaria continuar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário